O programa “Primeiros Laços”, gerenciado pelo Centro de Pesquisa e Inovação em Saúde Mental (CISM), consiste em visitas domiciliares realizadas por enfermeiros a jovens gestantes em situação de vulnerabilidade social e foi lançado, em Indaiatuba. O período de cadastro teve início ontem (1/7), para que sejam iniciados os atendimentos.

De forma abrangente, “Primeiros Laços” aborda cinco eixos da vida das futuras mães: saúde e assistência social; saúde ambiental (que inclui a identificação de recursos a fim de garantir condições de vida adequadas, moradia segura, creche, escola e acesso à saúde); curso de vida; habilidades parentais; e, por fim, família e rede social de apoio.

Para participar, as futuras mamães precisam estar na primeira gestação, ter de 14 a 20 anos e estar entre a 8ª e a 20ª semana gestacional. Segundo os pesquisadores, a escolha dessa faixa etária se deve ao fato de que, na maioria das vezes, as adolescentes não estão preparadas para os desafios da maternidade.

“Elas enfrentam estigma, rejeição familiar e frequentemente precisam abandonar os estudos, o que tende a agravar o sofrimento emocional e prejudicar suas perspectivas de futuro”, explica Vinícius Nagy Soares, gestor do programa “Primeiros Laços”. “Em última análise, a falta de apoio se reflete em um cuidado inadequado do bebê, repercutindo de maneira negativa sobre o desenvolvimento infantil”, acrescenta o pesquisador.

Mãe e bebê serão acompanhados desde a gestação até os 2 anos de idade da criança. Cada participante receberá 38 visitas, sendo 13 durante a gestação, três no puerpério, 12 quando o bebê tiver entre 2 e 12 meses e mais 10 entre o primeiro e o segundo ano de vida da criança. A duração de cada visita varia de 40 a 60 minutos e são quinzenais ou mensais, a depender da idade da criança.

Oferecido pelo serviço público de saúde, em parceria com pesquisadores de diversas universidades, o programa é gratuito. Para ser atendida, as gestantes devem procurar a Unidade Básica de Sáude (UBS) mais próxima de sua residência para realizar um pré-cadastro. A meta do programa é atender em torno de 200 adolescentes e jovens gestantes por ano, somando-se os municípios de Indaiatuba e Jaguariúna, onde o projeto está sendo aplicado.

SURGIMENTO DO PROGRAMA

Criado com o nome “Jovens Mães Cuidadoras” e depois rebatizado como “Primeiros Laços”, a primeira edição do programa aconteceu na cidade de São Paulo e foi concluída em 2018. Em 2021, o total de mães acompanhadas ao longo de quase três anos chegou a 167. Os resultados coletados no período tiveram publicações em revistas científicas e indicaram melhora, em relação à maternidade, entre as participantes que receberam a intervenção.

Dados anteriores coletados pelos pesquisadores comprovaram o efeito do programa sobre importantes domínios do desenvolvimento infantil, como a linguagem expressiva e a motricidade grossa. As mães passaram, por exemplo, a desenvolver o hábito de contar histórias ou cantar para a criança, e seus filhos firmaram uma relação de maior confiança com elas. Aos 2 anos, também já se expressavam melhor, apontando objetos e falando.

Como reconhecimento de seu potencial e efetividade, “Primeiros Laços” venceu o prêmio Abril & Dasa de Inovação Médica, na categoria “Inovação em Medicina Social”, em 2018. A honraria busca descobrir, reconhecer e valorizar profissionais e instituições que fazem a diferença nas ciências médicas e também nas boas práticas de saúde no país. O custo-efetividade desta intervenção na saúde pública também será avaliado a fim de verificar o potencial de escalada para outros municípios e regiões do país, tornando-se, de fato, uma política pública completamente inserida na rotina das equipes das Unidades Básicas de Saúde.

O Centro de Pesquisa e Inovação em Saúde Mental (CISM) é uma iniciativa da Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e Universidade Federal do Estado de São Paulo (UNIFESP) e possui, entre seus parceiros, o Centro Universitário Max Planck (Unimax). O programa Primeiros Laços é uma parceria entre o CISM, a Unimax e a Secretaria Municipal de Saúde.

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