O Instituto Butantan publicou, no último dia 4, na revista científica The Lancet Infectious Diseases, os resultados da fase 3 de sua vacina contra chikungunya, desenvolvida em parceria com a empresa de biotecnologia franco-austríaca Valneva. Referentes ao primeiro mês de acompanhamento após a imunização, os dados mostraram produção de anticorpos em 100% dos voluntários com infecção prévia e 98,8% naqueles sem contato anterior com o vírus.
A vacina é a primeira do mundo contra a doença, que acomete mais de 110 países e provoca dor crônica nas articulações, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Em 2024, até o final de agosto, foram registrados 254.651 casos prováveis no Brasil, um aumento de 45,5% em relação ao mesmo período de 2023, segundo o Painel de Arboviroses do Ministério da Saúde.
O ensaio clínico vem sendo conduzido pelo Butantan desde 2022 com 750 adolescentes de 12 a 17 anos residentes de áreas endêmicas, ou seja, onde há grande circulação do vírus. Participaram jovens das cidades de São Paulo (SP), São José do Rio Preto (SP), Salvador (BA), Fortaleza (CE), Belo Horizonte (MG), Laranjeiras (SE), Recife (PE), Manaus (AM), Campo Grande (MS) e Boa Vista (RR).
A análise de imunogenicidade (produção de anticorpos) foi feita no 28º dia após a aplicação da vacina ou placebo – segundo informações divulgadas em maio deste ano, a proteção se manteve em 99,1% dos participantes após seis meses da imunização.
O estudo publicado concluiu que o produto possui um bom perfil de segurança. A maioria dos eventos adversos (93%) no primeiro mês foi leve ou moderada, sendo os mais relatados dor de cabeça, dor no corpo, fadiga e febre.
Resultados equivalentes foram observados no estudo anterior de fase 3, conduzido pela Valneva nos Estados Unidos, em que 98,9% dos voluntários produziram anticorpos. Foram 4 mil participantes adultos e idosos de 18 a 65 anos, que mantiveram a proteção por pelo menos seis meses de acompanhamento.
Os dados americanos culminaram na aprovação da vacina pela Food and Drug Administration (FDA) dos Estados Unidos em novembro de 2023. No mesmo período, o Butantan submeteu à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) o pedido de registro definitivo para uso do imunizante no Brasil, que está sendo avaliado em conjunto com a agência europeia, a European Medicines Agency (EMA).
CHIKUNGUNYA
A chikungunya é uma arbovirose transmitida pelo mosquito Aedes aegypti. O vírus acessa a corrente sanguínea e afeta a membrana das articulações, causando dores intensas, além de febre (acima de 38,5°C), dor de cabeça, dor muscular e manchas vermelhas no corpo.
A principal sequela da doença é a dor crônica nas articulações, que pode durar anos e impactar severamente a qualidade de vida dos pacientes. Complicações sérias podem ocorrer em recém-nascidos infectados durante o parto e em idosos com comorbidades.
Os primeiros casos de chikungunya no Brasil aconteceram em 2014, mas a doença foi identificada em 1952 na Tanzânia. Seu nome vem do idioma Makonde, segundo a OMS, e significa “aqueles que se dobram”, fazendo referência à postura das pessoas infectadas com dor nas articulações.
(Fonte: Agência SP)