Por Rodrigo Augusto Prando
João Doria, pré-candidato do PSDB à Presidência da República, retirou-se da disputa eleitoral. A já combalida “terceira via” que respirava por aparelhos mostra-se mais frágil ainda.
João Doria é empresário de sucesso, milionário. Desde jovem, militou no PSDB e seu pai foi cassado pelo Regime Militar. Na vida política, foi eleito prefeito de São Paulo e, depois, governador do estado. Dentro do partido, em 2021, concorreu às prévias e foi o vitorioso, derrotando o então Governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite.
Leite, mesmo derrotado, insistiu em se colocar como candidato dos tucanos e, certamente, influenciado por outras lideranças do PSDB acreditou que poderia desbancar Doria. Nas pesquisas, levando-se em consideração os números da intenção de voto e sua enorme rejeição, ficou, para a cúpula partidária, apenas a rejeição, deixando-se, por exemplo, de lado os pontos positivos de sua gestão como os avanços com a vacina Coronavac no bojo da pandemia, o PIB de São Paulo cinco vezes maior que o do Brasil e a engenhosidade da despoluição do Rio Pinheiros.
Nada disso contou. Doria foi, diuturnamente, atacado, num flanco pelos bolsonaristas nas redes e nas ruas; noutro, o fogo “amigo” dos tucanos. Políticos têm na disputa e na manutenção do poder o sentido de suas vidas. Nesta eleição, todos os nomes da famigerada terceira via — Doria, inclusive — ficam espremidos pela força política eleitoral de Lula e de Bolsonaro; o primeiro, quer voltar ao poder; o segundo, tenta não perder o poder. Os candidatos que se afastam do lulopetismo e do bolsonarismo, todos, somados, ficam muito distantes de Bolsonaro, na segunda colocação para a corrida presidencial.
Doria, em seu discurso, afirmou: “Me retiro da disputa com o coração ferido e alma leve”. Obviamente, as pressões oriundas da liderança do partido são, também, a do desejo de se economizar os recursos do fundo partidário com uma candidatura de difícil crescimento, ou seja, sem candidato à presidência há mais recursos para candidatos a deputados (estaduais e federais), senadores e governadores.
Além disso, a personalidade de Doria contou para o desfecho ora vivenciado. Sua postura política foi, em muitos casos, de desprezo pela política com foco em sua visão empresarial, como gestor privado bem-sucedido. Afeito à racionalidade, à velocidade e às metas, sua relação, seja como prefeito ou como governador, com outros atores políticos e mesmo com sua equipe foi, em muitos casos, tensa. Prefeitos, não raro, ficavam, nas audiências, incomodados com um relógio para otimizar o tempo de conversa com o governador. Política é dialogar, é deixar-se levar pela conversa fiada, pelos tapinhas nas costas e pelos cafezinhos às vezes frios.
Em seu discurso, Doria deixou claro que sabe que errou, mas cada um é o que é. Os tucanos não se esquecem de que, em 2018, Doria abandonou Alckmin e foi na onda do “BolsoDoria”. Os bolsonaristas, por sua vez, torpedearam Doria impiedosamente, pois, depois do BolsoDoria, o governador de São Paulo ousou criticar, politicamente, o atual presidente.
Atribuem a Ulisses Guimarães a frase de que a “presidência da república é questão de destino”. Talvez não seja o destino de Doria ou mesmo de José Serra chegar ao topo da república. Conjugar, segundo o pressuposto de Maquiavel, fortuna e virtù é para poucos. Futuros são incertos: de Doria, da terceira via e do PSDB. Contudo, o PSDB, no episódio, apequenou-se e, se assim continuar, caminhará para a irrelevância política no plano nacional.
(Rodrigo Augusto Prando é professor e pesquisador da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Graduado em Ciências Sociais, Mestre e Doutor em Sociologia pela Unesp)